Recordar é viver

Necessário é viver o amor
Seja pra viver mais, seja pra amar melhor
Pra encarar nossas tristezas
E duvidar das incertezas que nos trazem dor

Necessário é perder o chão, flutuar…
E decifrar o olhar de quem carrega o enigma
O estigma da vida de quem fez uma escolha
No passado que dita o que não se pode mudar

Necessário é a poesia na imagem que eterniza o momento
O silêncio da fotografia que até pode falar
Na linguagem que traduz o sentimento
E a que a palavra jamais poderá expressar…

Necessário é que nem sempre o tempo vença
De quem não se lembra por jamais esquecer
Mas que vive sempre os momentos na memória
Onde imagens e sons contam a história

Porque recordar ainda é amar…
E amar ainda é viver…

A vida como uma indefinição entre o querer e o poder

Talvez a vida seja mesmo feita de idas e vindas, partidas e chegadas, recepções e despedidas, caminhos e estradas. Nos portos e mares, respirando novos ares, dividido entre o poder e a vontade, mas no coração bate sempre uma saudade daquilo que vai ficando para trás. 

O ir e vir constante entre o passado e o futuro, entre a luz no fim do túnel e o tiro no escuro. Como árvore que perde sua folha e que na próxima estação lhe nascerá outra. Como esperança e medo de quem é o senhor do destino, mas que também é escravo da escolha. 

A fuga repentina do eterno presente entre a instantânea lembrança e o esquecimento, no espaço da memória que constrói o monumento, e que destrói ao mesmo tempo aquilo que oportunamente se deixou de fora.

A história de quem venceu com glória essa infame escória que a tinta e o papel sua versão escondeu. Na letra que isenta, suprime e aumenta, circunscrita nos limites da conveniência e que se opõe ao som na qual ainda sustenta na oralidade a cultura como um ato de bravura, mas também de resistência.

A representação dos sentidos na total ausência. Signos do vazio preenchido que ressignifica e inventa o símbolo que outrora lhe destituiu o valor, mas que na angústia e dor encontram alguma referência.

A transitividade entre periferia e centro. Na empatia de sentir-se também dentro a experimentar no outro sua agonia. No movimento pendular de noite e de dia, a epifania da assincronia de quem sobrevive nesse mundo entre a constante tristeza e a efêmera alegria.

Essa certeza na dúvida que duvida da certeza no movimento constante desafiando a própria natureza, transcendendo os limites impostos à nossa existência. Na suspeita de que a realidade não possa apenas existir e que haverá sempre algo mais para se descobrir.

Ou talvez apenas uma questão sem resposta, mas que estará sempre posta a possibilidade de se resolver. E no final da jornada será então a morte, a conclusão dessa etapa, a única que poderá nos dizer se fomos mesmo em vida tudo aquilo que podíamos ser.

por Héber Queirós