Amar-te

Imagem

Amar-te…

É olhar-te sem esperar que me olhes de volta…
É mandar-te mensagens apaixonadas sem esperar resposta…

É perceber o coração acelerar toda vez que vê-la…
É não me lembrar de você por momento algum esquecê-la…

É desenvolver a paciência e persistência…
É aguçar os sentidos em tua ausência…

É sentir teu cheiro mesmo quando por perto não estás…
É ver tua imagem quando meus olhos se fecham…

É ouvir tua voz quando silêncio se faz…
É querer-te bem mais do que só te querer mais…

É dizer que te acho sempre linda…
É entender que em você é invisível aos olhos o que há de mais belo ainda…

É soprar teu cabelo no rosto só para vê-la tirar…
É empurrar tua caneta enquanto escreves só para te provocar…

É desejar estar ao lado só para te sentir de perto…
É confundir-se todo e não saber ao certo…

Usar palavras para te dizer…
O que todas as palavras não poderiam fazer: Definir o meu amor por você…

Heber Queiros

Quando dar esmolas deixa de ser um ato deliberativo

Certo dia, na bela rodoviária de Balsas/MA, fui abordado por um jovem negro, aparentemente saudável em seus vinte e poucos anos, mas mal trajado e com um característico odor de quem não tomava banho há dias. Com um tom de submissão que beirava atuação de artista global, me abordou pedindo que lhe desse uma moeda. Como eu não tinha (sem proselitismo, quando tenho ajudo sem reservas), disse que não podia ajudá-lo. Imediatamente o tom de voz e a postura mudaram, e esbravejando soltou as seguintes palavras: “Mas, eu estou com fome e não comi nada até agora!”. Em uma reação instantânea, sem muita ponderação e talvez na mesma proporção, respondi: “Sim, mas eu não tenho culpa!”. Fiquei um bom tempo da viagem incomodado com a imagem daquela cena na minha mente.

Isto me fez pensar, em minhas típicas elucubrações, o grau em que a mendicância chegou. Até bem pouco tempo atrás, mendigos pelas ruas era apenas uma coisa “normal”. Para uns, alvo de indiferença e para outros, motivo de incômodo. Conjuntural e superficialmente falando, sem fugir muito do lugar comum, seria um problema de natureza social que refletia o alto grau de desigualdade típica da má distribuição de renda de um típico país capitalista? Por outro lado, talvez um problema estrutural de desemprego pela ausência de qualificação da mão-de-obra resultante de uma má escolaridade de uma população semiletrada?

Entretanto, hodiernamente o que se vê é uma espécie de transcendência do status de normalidade para o de institucionalização da mendicância. Em outras palavras, pedir não é mais tido apenas como algo absolutamente normal, aceitável ou esperado, mas institucionalmente obrigatório. Se meu estado de pobreza material é grave, então a culpa ou responsabilidade é do outro que está em melhores condições que a minha. Não se trata mais de um mero exercício da caridade altruísta, mas sim do acúmulo de mais uma função social ocupada pelo indivíduo na sociedade do consumo.

Tal fenômeno, se é que de fato exista pelo menos em nível de uma experiência intersubjetiva e que não apenas em minha turva percepção, é no mínimo razoável de se considerar o mal estar e estranhamento que causam. Não dar mais esmola não é mais uma questão de ser visto como avarento, mas sim como um transgressor de um estereótipo social ora instituído e cujo processo de construção/instauração nos escapa inicialmente ao objeto desta singela observação.

Diante disto, gostaria de elencar ao querido leitor – na suspeita de que exista pelo menos um (risos) – algumas questões de natureza impeticável para nossa provocação, digo, reflexão (risos). Qual o grau de nossa responsabilidade no fato de existirem pessoas em tamanho estado de pobreza material? Seria algo restrito apenas à responsabilidade estatal? O individualismo consumista catalisou o processo de egoísmo ao extremo que dar esmola seria reduzir significativamente o poder de consumo? Aliviar a dor de quem tem fome seria institucionalizar a mendicância uma vez que se tem alguém que dá haverá quem pedir? Será se, de fato, faltam oportunidades de empregos ou interesse para buscar trabalhos menos “nobres” para sobreviver? Afinal, dar esmola é um ato deliberativo ou obrigatório?