A Vida, o Tempo e o Amor

O Tempo parou naquele instante. Eu soube naquele momento que algo aconteceu. Teu olhar distante em outra direção. Você toda de preto contrastando com tua pele clara. Ali na minha frente a poucos passos de distância. Achei que era Novembro, mas não. Não era. Era Outubro. E era outra estação. Meus olhos vidraram em você. Instantes depois ao meu lado, segurei tua mão. Pequena, macia, quente e suada. Senti você. Ela cabia completamente dentro da minha, sob medida, encomendada. Senti você. A Vida sorriu e olhou pro Tempo como quem havia acabado de ter uma ideia.

O Tempo passou naqueles dias. A Vida sabia o que aconteceria. Ela planejou. Pensou que poderia fazer o que bem entenderia. E fez. Juntou dois corações de uma só vez que se encaixavam perfeitamente como se fossem um só e que nunca se encaixariam em mais ninguém porque nunca antes assim se encaixara. Formas raras, perfeitas e imperfeitas, do mesmo pretérito. Mérito da Vida que assim o fez porque sabia que o Tempo se distraia, exatamente como eu me distraio ao te ver… Ah! E sempre que te vejo, tudo ao redor some pela tal distração. Só que a Vida transformou distração em distopia. Total privação de alegria. Oitenta mil versões de um final infeliz para o dia 8 daquele mês chamado agonia.

O Tempo hesitou naquele momento porque era o primeiro dia do último mês. Um paradoxo como as ironias que a Vida fazia. E eu só sabia que te precisava e te queria. E você estava… bem ali… na minha frente… sorrindo… me olhando e pensando: o que tu vai fazer? E na velocidade do pensamento movido pelo querer: Fiz! Como quem faz e não fala nada. Como quem cala, silenciando as palavras. Como quem de repente se aproxima devagar, mas com um pouco pressa… Pressa de não poder esperar nem mais um segundo sequer porque “A vida é muito curta pra se perder um segundo”. Olho no olho: bem la no fundo. Conexão que diz sem precisar falar porque sente e entende. Boca na boca: sentimentos profundos. Conexão que se sente sem precisar entender porque não é mesmo pra se entender. É pra experimentar. Viver. Sentir. Nas três conjugações e nas quatro estações. Fazer memórias, lembranças… Momentos que o tempo e a vida não te deixam esquecer.

A Vida colocou um pouco do seu gosto em teus lábios delicados, vermelhos e cheios de micro-ranhuras que fazem da tua boca a textura para minha tessitura, os caminhos para sanidade virar loucura, sem perder a razão, mas também sem controlar a emoção. Meus lábios encontram os teus… Um toque suave intercalados de respiração, sorrisos e intensidade. As luzes da cidade se apagam para as estrelas te iluminarem, pela janela de vidro, o suficiente para ver brilhar tua pele clara cheia de sinais. Ondas neóns… Eu corro o risco de navegar, sem rumo e sem direção, perdido e sem noção, pelo teu corpo procurando apenas me achar em ti.

A Vida me fez te ver e te achar, te querer e te sentir, te ter pra depois te perder. Ela te fez desistir e fugir. A correr com medo de fazer e ser feliz. Medo de amar, viver e sentir… nas três conjugações e nas quatro estações. Medo de querer mais do que poder. Enquanto o tempo só dizia pra esperar, pra ter “um pouco mais de paciência”. Pra não apressar, se recusar e fazer hora, ir na valsa, conforme aquela música que tocava… Lenta e pulsante… No “tum… tum…” e não no “tic-tac, tic-tac, tic-tac”. Ele só queria consertar aquela pequena distração que nos colocou em momentos diferentes. Em vidas diferentes. Porque no fundo, sabemos que nossas almas estarão pra sempre ligadas por uma força bem maior que a Vida e que o Tempo juntos nunca poderão superar: a força do Amor. O Verbo-Substantivo que agora me faz apenas teu particípio “amado”, de um infinito infinitivo “amar”, seguindo em frente gerundiando porque a vida e o tempo só podem seguir juntos se for “amando”.

Por Heber Queiros

Autor: Heber Queiros

Estudou História na Universidade Estadual do Maranhão - UEMA e trabalhou como professor de História durante 8 anos no ensino fundamental e médio em escolas particulares de São Luis/MA. Da decepção com o magistério ingressou no Serviço Público no Tribunal de Justiça do Maranhão e, atualmente estudante de Licenciatura em Música na Universidade Estadual do Maranhão.

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